As eternas areias do deserto

Finas, lívidas, amontoadas
de cores nuas, claras, desmaidas
nelas se movem sombras atordoadas
numa balada de silêncio insondável
onde se cruzam no rasto dos caminhos
o passado, o presente, o futuro,
embrenhadas no rolar da fúria das tempestades
pelo portentoso rodopiar dos ventos
soprando com quanta força pode a natureza
correndo um desafio tortuoso
desmembrando sonhos numa tola e vã certeza
       e o céu não chora
       não chora nunca...
um rosto pálido, transfigurado
espírito débil, enfraquecido
envolto em cega luz, jaz, perdido
onde vibram miragens loucas
que turvam a fonte da fantasia
transpirando tudo o que é poeira
sempre sob o sol do meio-dia,
e resistem ao tempo
aos ventos flutuantes
às correntes variantes
que avançam sem parar
sem poderem descansar
carregando o peso de toda a sua eternidade
    e o céu, por mais que morra de vontade
       não chora
         não chora nunca...
                                    mas são belas
                                    belas e eternas
                                             as eternas areias do deserto.